As memórias pelo caminho

Luiz Felipe Gomes Santos
4 min readFeb 23, 2019

16 de Dezembro nem faz tanto tempo, mas parece uma eternidade. Quando Liverpool e Manchester United se enfrentaram no primeiro turno, memórias foram escritas diante dos nossos olhos. Nós vivemos algo especial, algo que pode nos acompanhar a vida toda, dependendo do que acontecer entre Fevereiro e Maio.

Quando Xherdan Shaqiri pisou em campo naquele dia, o Liverpool já parecia sem ideias. Apesar do total domínio do jogo, os homens de José Mourinho pareciam começar a frustrar os jogadores e a torcida da casa. Lovren, Clyne e Van Dijk, todos, tentaram chutes especulativos, que dificilmente dariam em algo. Klopp e seus comandados pareciam sem ideias e o time de Manchester parecia, pela primeira vez, ter as rédeas do jogo.

Entra o camisa 23, e o jogo muda. De repente, o Liverpool tem outra marcha pra engatar, outra peça pra incomodar, mais uma arma letal que nos coloca mais uma vez em vantagem na situação. O suíço se consagra e marca dois gols com uma pitada de sorte no meio do caminho. Seu primeiro clássico ficará em sua memória por muito tempo.

Amanhã, mais jogadores procurarão criar memórias para nós e para si mesmos. Salah ainda busca seu primeiro gol contra o maior rival, Naby Keita ainda procura uma forma de se anunciar por completo como um jogador do Liverpool e sabe que não tem jeito melhor do que com uma performance brilhante e vencedora contra o Manchester United — ele só precisa perguntar a Fabinho. E o jovem Trent, que sonha com o dia em que calará o Old Trafford desde que era uma criança? Imaginem o que um gol nesse jogo não faria para sua carreira daqui pra frente? Ele já viveu o céu e o inferno nesse estádio, onde fez sua estreia profissional e também seu pior jogo com a camisa do Liverpool. Ele tem memórias o bastante e ao mesmo tempo ainda não fez nada.

Mas e os torcedores? Lembramos de muitos momentos horríveis durante os anos, mas pergunte-nos qual a principal memória do Liverpool no Old Trafford a qualquer um de nós e só existem duas respostas: 2009 e 2014.

O Liverpool pode não ter um grande repertório de momentos brilhantes na casa de seu grande rival na Premier League, afinal, ultimamente nunca fomos tão bons e eles, por boa parte do tempo, foram. Mas quando éramos bons, éramos realmente bons. A melhor versão do time de Benitez passou por cima do Manchester United em 2009 na mesma semana em que atropelou o Real Madrid pela Champions League. Em 2014, a melhor versão dos homens de Brendan Rodgers pulverizou o rival quando mais importava. E se os últimos anos não foram legais com a gente, o que nos dá confiança pra esse jogo é que essa é a melhor versão do time de Klopp e nós somos muito bons.

O jogo de amanhã é crucial na nossa briga pelo título. Não matematicamente, pois no pior dos casos, estaríamos em segundo no saldo de gols e o próprio Manchester City ainda precisa visitar o Old Trafford. A derrota não é catastrófica, mas é um cenário que jamais deve ser considerado. Os três pontos perdidos não são o que definem o campeonato, mas os três pontos são a última coisa em jogo no Domingo. Momento, força de espírito, um senso de invencibilidade, uma mensagem enfática aos nossos perseguidores… Isso não se mede com três pontos na tabela. Vençam amanhã e estaremos numa posição privilegiada, uma posição de força, autoridade e imponência. Criem memórias que poderemos apreciar e isso os empurrará até a linha de chegada. Mostre ao seu maior rival que você, não ele, controla seu próprio destino nessa briga pelo título e veja todos a sua volta darem um passo atrás.

A vitória contra o Everton foi o ponto de virada na campanha atual, onde começamos a acreditar pela primeira vez que tudo era possível. Mais importante ainda, quem estava a nossa volta sentiu o mesmo. O último mês colocou nossa força em xeque, quem estava atrás voltou a acreditar e alguns de nós começaram a duvidar. Uma vitória amanhã significa trazer tudo de volta a normalidade. Um up necessário para nós, uma decepção para eles. Imaginem o City entrando em campo amanhã, jogando um jogo de futebol sabendo que esse jogo não tem nenhuma influência na tabela da liga, sabendo que não importa o que eles façam, eles terminarão o dia atrás de nós. Um gol não é o bastante pra eles amanhã. 10 gols não são o bastante. Não amanhã. Tudo depende de nós e eles não podem mudar isso, não importa o quanto tentem. Nós nos colocamos na pole position de novo, precisando apenas administrar bem a corrida até a bandeirada final.

Vençam, como puderem, e vejam o que milhões de fãs confiantes e energizados podem fazer por vocês. Memória por memória, criaremos uma campanha perfeita. E tudo começa amanhã. É hora de saber se vamos nadar ou afundar e se nossas lembranças ficarão pelo caminho ou para a eternidade.

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