From Paris down to Turkey: Liverpool 1–1 Roma

Luiz Felipe Gomes Santos
5 min readMay 31, 2019

A série a seguir conta a história dos cinco triunfos do Liverpool na Champions League, um por um.

Em 1984, após três sucessos em finais europeias num curto espaço de tempo, o Liverpool retornava ao Stadio Olímpico, onde tudo começou. O palco do primeiro grande triunfo continental dos homens de Bob Paisley era, mais uma vez, o local de uma final de Copa Europeia e, dessa vez, o Liverpool enfrentaria os donos da casa.

Com Falcão e Toninho Cerezo comandando o meio-campo Romanista, o jogo prometia muito. Franco Tancredi no gol e Roberto Pruzzo no ataque também eram atrações. A Roma tinha um time capaz de bater de frente com os Reds e fizeram exatamente isso.

Na saída de bola, a Roma buscou o primeiro gol. Após os tradicionais dois toques no círculo central, a bola foi rolada para trás e uma finalização de trás do meio de campo já testou Bruce Grobbelaar, que estava atento.

Aos 14 minutos, Craig Johnston cruzou uma bola da ponta direita e Ronnie Whelan disputou com o goleiro da Roma no alto. A bola sobrou num bate-rebate limpa para Phil Neal, com gol aberto, e o camisa 2 só empurrou a bola para o fundo das redes.

A Roma começou a atacar depois disso e foi perigosa logo de cara. Após ótimo lançamento de Falcão, Phil Neal conseguiu tirar a bola para lateral com uma casquinha de leve, mas a cobrança do lateral foi rápida e achou Francesco Graziani que invadiu a área livre e bateu no canto baixo de Grobbelaar, que fez ótima defesa.

O jogo era aberto pros dois lados e após a zaga italiana se atrapalhar na saída de bola, Ian Rush arrancou com a bola dominada, invadiu a área e bateu de canhota para boa defesa do goleiro.

Já no fim do primeiro tempo, a Roma descia pela ponta esquerda e, após bom cruzamento, Roberto Pruzzo cabeceou com estilo para encobrir o arqueiro do Liverpool. O jogo ia para o intervalo empatado em 1 à 1. O gol sair pela esquerda não foi coincidência, uma vez que Bruno Conti mudou de lado para explorar a falta de velocidade de um Phil Neal já longe do seu auge físico.

No segundo tempo, a primeira boa chance veio num escanteio cobrado rapidamente (familiar?) onde a bola encontrou Kenny Dalglish na entrada da grande área e o camisa 7 armou um belo chute que foi parado com bela defesa de Tancredi.

O jogo foi ficando morno, especialmente após a saída de Roberto Pruzzo, machucado, pelo lado da Roma. O Liverpool controlava os espaços e teve um segundo tempo onde não foi atacado mas ao mesmo tempo não ofereceu grande perigo a meta de Tancredi por boa parte da segunda etapa. Com exceção ao escanteio, Kenny Dalglish foi anulado pelo sistema defensivo italiano. Defensivamente, Mark Lawrenson evitou que o Liverpool tivesse maiores problemas das poucas vezes que foi exigido.

A introdução de Steve Nicol deu nova vida ao meio-campo do Liverpool que dominou os 25 minutos finais e faltando 4 minutos para o fim do tempo regulamentar parecia que o mesmo Nicol estava destinado a dar o título ao Liverpool quando Dalglish o colocou frente a frente com Tancredi, mas o goleiro Romanista foi, mais uma vez, um muro e salvou os donos da casa momentaneamente, levando o jogo pra prorrogação.

Como a maioria das prorrogações costumam ser, o jogo foi morno e com muitas poucas chances, com ambos os times não se expondo muito e as chances de gol saindo de chutes especulativos de fora da área. Foi a Roma, no entanto, que chegou mais perto do gol por duas vezes em duas finalizações de Bruno Conti, que continuava a aterrorizar Phil Neal no mano a mano — estratégia que a equipe de Roma tinha, inexplicavelmente, abandonado no segundo tempo do tempo regulamentar.

Duas equipes de imensa qualidade se anularam por boa parte de 120 minutos, com alguns momentos esporádicos de brilhantismo. Nada mais justo que uma decisão de pênaltis para coroar o campeão europeu de 1984.

O Liverpool iniciou a série de cobranças com Steve Nicol, que buscou o ângulo direito do goleiro mas acabou isolando o chute. A Roma tinha a vantagem e Agostino Di Bartolomei bateu o que pareceu o pênalti mais seguro do mundo. Forte, alto e no meio. 0 à 1 para os donos da casa e a pressão era toda do Liverpool.

Phil Neal era o próximo batedor e o camisa 2 seguiu cartilha parecida a de Steve Nicol, buscando o ângulo do goleiro, mas bateu pro lado esquerdo do gol e deslocou Tancredi. 1 à 1 mas a vantagem ainda era da Roma e Bruno Conti, o homem do jogo, ia pra bola. Como é de praxe em toda disputa de penalidades, o homem do jogo no tempo normal geralmente perde sua cobrança e Bruno Conti manteve a tradição isolando a bola na torcida. 1 à 1 e tudo igual.

Graeme Souness pegou a bola para a terceira cobrança e encheu o pé no ângulo esquerdo de Tancredi, que pulou pro lado certo mas não conseguiu defender. 2 à 1 e Urbaldo Righetti caminhando para a marca da cal. Cobrança praticamente igual a de Souness e o jogo estava mais uma vez empatado.

Ian Rush vinha para a quarta cobrança e com toda a calma do mundo deslocou Tancredi e colocou a bola na bochecha da rede no lado esquerdo do goleiro. 3 à 2 e a Roma vinha para sua quarta cobrança com Francesco Graziani.

Bruce Grobbelaar, em cima da linha, fazia seu ritual de distração dos atacantes adversários balançando as pernas de forma aleatória enquanto Graziani tentava se concentrar. O camisa 11 da Roma correu para a bola e encheu o pé. A bola caprichosamente explodiu no travessão e subiu. 3 à 2 e o Liverpool tinha a chance de ser campeão nos pés de Alan Kennedy.

Kennedy que já havia feito o gol do título sobre o Real Madrid em 81, no tempo normal, garantiu o quarto título de Liga dos Campeões para o Liverpool deslocando Tancredi com uma bela cobrança de pé esquerdo.

Foi poético que a grande geração do fim dos anos 70 e começo dos anos 80 do Liverpool coroasse ali seu último título europeu. Tudo terminou onde começou. Após anos de dominação europeia com Bob Paisley no comando, Joe Fagan terminou o ciclo com mais uma orelhuda na conta. O Liverpool ainda jogaria outra final, no ano seguinte, contra a Juventus mas os lamentáveis eventos de Heysel não só mancharam o que deveria ser um espetáculo mas garantiram que times ingleses fossem banidos de competições europeias por cinco anos — a maior mancha na história do Liverpool como instituição, quando hooligans causaram a morte de 39 torcedores da Juventus, inclusive mulheres e crianças, que foram atacados dentro do estádio e esmagados por parte da arquibancada que desabou devido a pressão colocada pelo número de pessoas tentando fugir dos ataques.

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