O céu está perto — mas podemos tocá-lo?

Luiz Felipe Gomes Santos
3 min readMar 31, 2019

No que você acredita? Quais forças do universo passam pela sua mente num momento como esse? Há quem acredite em tudo, há quem não acredite em nada, há quem viva num meio-termo e nenhum deles está errado.

Eu particularmente acredito na pluralidade. Quando pessoas de todas as crenças se juntam num momento de fé em prol do mesmo objetivo, todas as forças do universo agem ao mesmo tempo e essa pluralidade torna o impossível possível. Num time com pessoas de diferentes religiões, jogando por um clube com apoio no mundo todo, todos os tipos de pessoas pediam a mesma coisa: um sinal para renovar sua fé.

Quando o Liverpool marcou seu segundo gol nos últimos minutos de jogo, Salah agradeceu a Allah. Os brasileiros agradeceram a Deus. Alguém certamente agradeceu as leis da física, que ditam que a bola não poderia passar por dentro de Alderweireld e que a força de seu contato em direção contrária a bola fez com que fosse impossível ela tomar outro caminho que não o gol… Todos nós agradecemos a algo. Agradecemos até aos deuses do futebol. Esses sim, parecem nos acompanhar essa temporada.

Aquele gol foi nosso. De todos. Todos contribuíram com algo. Alguns mais, outros menos, mas milhões de pessoas empurraram aquela bola pra dentro, de forma inexplicável. E, assim, nossas esperanças se renovaram por mais uma semana, quaisquer que sejam elas.

Numa cidade que trata seus ídolos como deuses, nada é mais apropriado. Robbie Fowler é Deus por uma razão e o elenco atual joga sua imortalidade. Eles sabem que um eventual título da Premier League os tornariam imortais num clube onde o céu é estrelado e cada estrela tem um nome diferente.

Por isso, não percam a fé neles. Nos momentos mais difíceis, junte forças o bastante para apoiá-los e acreditem até o fim. Estamos tão perto do céu, mas não podemos tocá-lo ainda e nem sabemos se poderemos quando chegar a hora final, mas a possibilidade se mantém viva e é tudo o que precisamos no momento.

Enquanto leio isso, revisando possíveis erros, entendo o quão absurdo pode soar para alguém de fora mas o mais impressionante é que isso não faz sentido pra muita gente mas para nós faz todo o sentido do mundo. Durante os anos esse clube nos ensinou a força do intangível, do folclórico, do inexplicável. Dizem que tudo pode ser racionalizado mas isso não se aplica ao lado vermelho de Merseyside. Não quando Mahrez é capaz de isolar um pênalti daquela maneira ou quando Jordan Pickford faz algo completamente bizarro e nos presenteia com um gol improvável. Não quando Speroni falha bisonhamente a nosso favor e, certamente, não quando Lloris espalma a bola em cima de seu zagueiro e ela entra mansamente no fundo das redes.

Quando o Liverpool e o Anfield mais precisam, as forças do universo, geralmente, se juntam a favor da nossa causa. É o poder da pluralidade que mantém esse clube gigante perseguindo uma missão quase impossível.

Se nos perguntarem, de forma racional, o porquê acreditamos, ficaremos sem palavras. O Manchester City tem a vantagem, tem o melhor time, tem o talento e o dinheiro e podem até ter o título no fim do campeonato, tem todas as razões lógicas para sonhar mas não tem o que nós temos. Nós podemos acreditar no impossível, pois o tornamos possível. Nós acreditamos porque acreditamos. Sem mais, nem menos. Sem explicação ou lógica. Nós presenciamos o improvável, sentimos o intangível e sonhamos em chegar aos céus, mesmo não sabendo se poderemos tocá-lo. É o que esse clube faz, é o que nos mantém acreditando e é o que renova nossa fé.

O Liverpool nos faz sonhar e é tudo que precisamos num mundo com tão pouco espaço para os sonhadores. Então busquem o céu e as estrelas, Liverpool, pois queremos tocá-las e se no fim dessa jornada tudo que restar for ilusão, começaremos do zero e nos iludiremos de novo pois não há nada como o sentimento de acreditar em algo maior que si mesmo.

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